Há casos que nunca chegam a existir no terreno, mas ganham vida plena nos gabinetes, nas redes de activismo internacional e nas redacções europeias. A acusação de que as Forças Armadas moçambicanas teriam detido e maltratado civis em contentores na zona do projecto Mozambique LNG é um desses casos: nasceu sem provas, cresceu sem verificação e, mesmo depois de ter sido desmentida pelo Governo em 2024, ressurgiu agora como queixa criminal apresentada em Paris por uma ONG alemã.
Não há testemunhos validados, não há investigações independentes, não há qualquer elemento factual que sustente a acusação. Tanto o Estado moçambicano como a TotalEnergies negaram categoricamente ter cometido abusos. Mas a ausência de provas nunca foi um obstáculo quando a narrativa serve um propósito político maior. A reabertura da polémica surge exactamente na semana em que a TotalEnergies confirma o fim da força maior e anuncia a retoma do maior projecto energético da África Austral, um timing demasiado cirúrgico para ser coincidência.
A ofensiva comunicacional que se seguiu (impulsionada por redes anti-extractivistas europeias que nunca pisaram Cabo Delgado) transformou uma alegação antiga, já refutada, num facto político importado para Moçambique através de títulos alarmistas e pressões diplomáticas. E enquanto o país se vê obrigado a responder a uma acusação que não cometeu, o debate internacional desloca-se do centro da questão para o campo da narrativa.
Para que o leitor compreenda a arquitectura desta crise – o que foi dito, quando, por quem e com que intenções – reconstruímos, passo a passo, a sequência dos acontecimentos que levaram uma história falsa de 2021 a renascer em 2025 com força suficiente para colocar Moçambique na defensiva perante tribunais e governos estrangeiros.
